De flor em flor, as abelhas – os seres polinizadores da maior parte dos ecossistemas do planeta – garantem não apenas o próprio alimento, mas o da humanidade e, também, a sobrevivência das demais espécies. Somente em relação à agricultura, por exemplo, cerca de 70% do que é cultivado no mundo depende do trabalho das abelhas, conforme dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Não à toa – e por uma série extensa de razões -, as abelhas foram intituladas como os seres mais importantes da Terra, segundo uma das mais respeitadas instituições de estudos no mundo, a Royal Geographical Society, de Londres. No entanto, a mesma instituição soou um alarme: as abelhas estão desaparecendo do planeta.
Entre as causas que ameaçam a vida dessas “pequenas grandes notáveis”, há pesquisas científicas que apontam o uso irracional de pesticidas sintéticos. Mas, e os pesticidas botânicos, os ditos naturais, seriam mesmo de todo inofensivos às abelhas? De forma surpreendente, um estudo realizado pelo professor Paulo Henrique Tschoeke*, do colegiado de Agronomia do Câmpus de Gurupi, respondeu que não!
E como se chegou a esse resultado? Pesquisando-se os efeitos, sobre as populações de abelhas, do óleo de neem – um pesticida botânico – e de fungicidas e inseticidas convencionais. O estudo integra a tese de doutorado** do professor Tschoeke no Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal (PPGPV) do Câmpus. A descoberta culminou também na publicação de um artigo pela Elsevier – editora anglo-holandesa, entre as principais da área científica internacional.
O trabalho pode ser acessado, na íntegra, aqui.
*Em parceria com outros cinco pesquisadores: Eugênio E. Oliveira (UFV); Mateus S. Dalcin (UFT); Marcela Cristina A.C. Silveira-Tschoeke (UFT); Renato A. Sarmento (UFT); e Gil Rodrigues Santos (UFT).
**Com parte da pesquisa feita no Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em doutorado-sanduíche.
O delicado encontro entre abelhas, agricultura e o uso de pesticidas
O professor Tschoeke vem pesquisando a relação entre as abelhas e a agricultura desde 2008, com destaque para os estudos de campo de polinização em melão e melancia na região de Formoso do Araguaia.
Comparando o uso do óleo de neem com o de pesticidas sintéticos no cultivo do melão, percebeu-se um fato negativo, mesmo quanto à alternativa botânica, sobre a polinização realizada pelas abelhas na plantação: “Os resultados nos trouxeram certa surpresa”, afirma o professor, “uma vez que o neem teve não somente efeito negativo quanto à visitação das abelhas, mas, ainda, na qualidade dos frutos – que diminuíram de tamanho e de peso”. A partir disso, uma das recomendações do estudo é que também se deveriam fazer análises de risco a respeito do uso de pesticidas naturais nos plantios.
No cultivo de melão e melancia, por exemplo, o trabalho das abelhas é indispensável, frisa Tschoeke: “Sem o trabalho delas, não há frutos. E, feita a polinização, mas de forma insatisfatória, pode até haver a ocorrência de fruto, porém mal formado, um fruto que não alcança o mercado”.