Uma índia curuaia, presente durante um protesto indígena esta quarta-feira (24), na BR-230, em Altamira, chamou a atenção de quem passava pelo local, mas não exatamente pela causa da manifestação, e sim por sua aparência.
De vestido justo e cocar na cabeça, Lorena Aranha, estudante de medicina e filha de índios do povo Kuruaya (pela parte materna), etnia que sofre os transtornos causados pelo crescimento demográfico da cidade do sudoeste paraense, era uma das lideranças da manifestação que bloqueou a rodovia por mais de oito horas.
A cor de sua pele (branca) e seus traços físicos, além da forma como estava vestida, fizeram com que algumas pessoas questionassem se Lorena era realmente uma índia. Muitos a assediaram, mostrando uma triste realidade da mentalidade de muitas pessoas.
“‘Assim que cheguei lá já começaram os assédios, do início ao fim. Ouvi coisas horríveis, comentários racistas e machistas. Eu faço a frente da minha comunidade desde os 18 anos, com autorização de minha vó, que me deu autonomia para este tipo de ação, diz Lorena”, afirmando que já esperava por este tipo de situação e que se preparou para agir com coragem diante dos ataques.
Repercussão na web
Logo, o caso repercutiu nas redes sociais, levantando o debate sobre o comportamento dos índios. Lorena recebeu muitas críticas de pessoas que questionavam seu sangue indígena. Alguns internautas chegaram a chamá-la de “índia de iphone” e “patricinha metida a índia”. Lorena decidiu se manifestar, contando um pouco sobre a história de sua família.
Ela cresceu dentro da cultura curuaia. Sua avó é uma das últimas falantes da língua da etnia, e tem ensinado seu legado à Lorena, que vive a poucos quilometros da aldeia. Com o crescimento urbano e a aproximação de novas culturas, Lorena, como muitos indígenas, ganhou novos hábitos, mas isso não significa que ela deixou de ser índia, como muitos imaginam. Sobre os ataques que sofreu durante o ato e na internet, a índia é taxativa.
“Eu sinto pena dessas pessoas. Eu tento responder da melhor forma sempre, mas meu sentimento é de tristeza por elas. Quando os ataques são grosseiros, de certa forma a gente se sente pra baixo. É preciso ser forte para sair dessa energia de ódio”, diz Lorena, ressaltando a importância de manter a saúde mental em dia para lidar com este tipo de situação.
“Os ataques foram muito fortes devido a toda repercussão. Ainda bem que meus pais não tem acesso às redes sociais. Quero ressaltar a importância da questão da saúde mental, envolve muita coisa. Eu tenho uma mente bem forte, mas se fosse outra pessoa, talvez não aguentasse. É preciso ter cuidado com o que se fala, isso tem causado tantas mortes, é preciso ter cuidado”, conclui.