Iniciativa é uma realização conjunta entre o Estado, prefeitura e comunidade indígena que está beneficiando mais de 150 famílias indígenas da etnia Xerente
Um projeto piloto de Roça Comunitária Indígena está sendo implantado no município de Tocantínia, a 89 km da Capital, e beneficiando mais de 150 famílias indígenas da etnia Xerente. A iniciativa é uma realização conjunta entre o Governo do Tocantins, por meio do Programa Mesa Farta e a assistência técnica do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins), a prefeitura municipal e a comunidade indígena.
Voltado para suprir as necessidades alimentar e nutricional das famílias indígenas Xerente impactadas pela pandemia da covid-19, o projeto está em andamento com 14 hectares (ha) de área plantada, sendo 10 hectares de arroz; 2 ha de milho, 0,5 ha de feijão e 1,5 ha de mandioca. No total são oito aldeias indígenas beneficiadas e envolvidas na implantação: Boa Vida, Boa Vista, Bom Tempo, Cabeceira da Água Fria, Montes Belos, Monte Sião, Paraíso e Suprawahâ.
O técnico agrícola e extensionista do Ruraltins, Raulino Noleto, presta assistência técnica à comunidade e explicou como está sendo conduzido esse projeto. “Com apoio da prefeitura, do Governo do Tocantins e principalmente dos indígenas, foram implantados 10 hectares de arroz na aldeia Cabeceira do Água Fria, envolvendo também outras aldeias ao redor, e beneficiando cerca de 70 famílias. Temos ainda mais três roças em outras aldeias que envolvem mais um total de 80 famílias. Nesse trabalho, iniciado em janeiro, o Governo doou as sementes, a prefeitura entrou com o maquinário, o Ruraltins com a parte de assistência técnica e os indígenas com a mão de obra com a catação de raiz, acompanhamento da plantadeira e adubação. A intenção é estender esse projeto para as demais aldeias da reserva, e assim garantir alimento às famílias indígenas da região”, destacou Raulino Noleto.
Com expectativa de colher 3 mil kg por hectare somente de arroz, o presidente do Ruraltins, Fabiano Miranda, visitou o plantio de arroz, e destacou a importância da integração de todos para o êxito no projeto com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos povos indígenas do Tocantins. “Estamos aqui, visitando esse projeto que, com certeza será o piloto para ser levado às demais comunidades indígenas, e assim melhorar a vida dos povos indígena no Estado. Esta é uma ação conjunta, que envolve o Governo, através do programa Mesa Farta, e a assistência técnica do Ruraltins, e a parceria com a prefeitura para garantir alimento, geração de renda e a permanência dos povos indígenas nas suas terras”, explicou.
O prefeito de Tocantínia, Manoel Silvino Neto, relatou que a ideia da roça comunitária foi provocada pela própria comunidade Xerente, por meio da Associação Cabeceira da Água fria. “O objetivo desse projeto é voltar a cadeia produtiva dos indígenas para a agricultura, que hoje vive mais da produção do artesanato, mas que necessitam da sua produção agrícola para o abastecimento da sua despensa. A associação teve a iniciativa e nós juntos, Governo, prefeitura e comunidades indígenas implantamos esse projeto que já está bem avançado, próximo à colheita. Agradecemos ao Governo do Tocantins, por meio da Seagro [Secretaria de Estado da Agricultura] e do Ruraltins, que estão aqui apoiando essa causa para que a gente consiga eliminar a fome dentro da reserva indígena”, afirmou o gestor municipal.
Articulador do projeto, o indígena Tiago Srekmõrãte Xerente, reforça que o processo de mobilização para a execução desse programa partiu da necessidade alimentar do seu povo, principalmente no período da pandemia. “Nossa comunidade muitas das recorre à cidade circunvizinha e acaba pagando um preço alto pelo alimento por ser no crédito, então, para tentar amenizar essa dificuldade que eles estão enfrentando, inicialmente pensei na possibilidade de levar esse projeto para a comunidade e ver qual seria a aceitação para a implantação, mas vi que precisaríamos de um apoio por que não tem muito conhecimento de agricultura, e meios de implantar a roça, então buscamos parcerias junto ao município e ao Ruraltins, que tem nos dados todo suporte. Agradecemos muito ao Governo do Tocantins pelo apoio, com as sementes e a ajuda do técnico do Ruraltins ”, agradeceu.
Programa Mesa Farta
Do mês de dezembro de 2021 a meados de janeiro de 2022, cerca de 8 mil pequenos produtores receberam 2,2 mil toneladas de sementes para semeio nos 139 municípios tocantinenses. O programa é realizado pelo Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Aquicultura (Seagro). Já a aquisição das sementes foi realizada com recursos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação à Pobreza (Fecoep).
Povos tradicionais
No Tocantins, os levantamentos mais recentes do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE) estimam uma população acima de 14 mil indígenas, distribuídos em nove etnias: Karajá, Xambioá, Javaé (que formam o povo Iny), Xerente, Apinajè, Krahô, Krahô-Kanela, Avá-Canoeiro (Cara Preta) e Pankararu. Outros povos, especialmente alguns localizados na Ilha do Bananal, ainda buscam o reconhecimento como etnias tocantinenses.
Na região de Tocantínia, os povos Xerente e Funil contam com 173,542 hectares de reserva.