Renúncia foi protocolada na Assembleia Legislativa horas antes do segundo turno da votação no processo de impeachment.
O governador afastado do Tocantins, Mauro Carlesse (PSL), renunciou ao cargo na tarde desta sexta-feira (11) na Assembleia Legislativa. O documento com o pedido foi protocolado pelo advogado Juvenal Klayber, por volta das 15h, duas horas antes do segundo turno da votação no processo de impeachment que levaria a abertura de um Tribunal Misto para julgar o governador por crimes de responsabilidade.
Com a renúncia, o processo de impeachment não deve continuar. Isso porque nesta situação há a chamada ‘perda de objeto’, uma vez que ele não está mais no cargo que poderia perder. Na sessão, haverá a leitura da carta de renúncia, que o g1 vai transmitir ao vivo.
O governador divulgou um vídeo após a renúncia em que diz ter chegado ‘ao limite’.
No pedido de renúncia, ele afirma que tomou a decisão para “apresentar de forma tranquila e serena sua defesa junto ao Poder Judiciário em relação às injustas e inverídicas acusações que lhe foram imputadas”.
Pedido de renúncia do governador afastado Mauro Carlesse — Foto: Reprodução/Assessoria de Mauro Carlesse
Segundo a assessoria de imprensa do governador, ele enviou uma mensagem que deve ser lida durante a sessão extraordinária na qual a votação do segundo turno do impeachment aconteceria. Logo em seguida, será convocada uma sessão solene para a posse do vice-governador como novo títular.
As acusações do impeachment eram baseadas na decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que o afastou do cargo em outubro do ano passado. As investigações são da Polícia Federal e apontam participação de Carlesse em um esquema de recebimento de propinas e também interferência política na Polícia Civil.
Após a votação em primeiro turno, na quinta-feira (10), o governador emitiu uma nota oficial dizendo não concordar com a votação da Assembleia e afirmando sua inocência. Ele tinha dito que continuaria a debater o caso judicialmente.
Vice assume definitivamente
Desde outubro de 2021, quando Carlesse foi afastado pelo STJ, o governo do Tocantins é exercido pelo vice-governador, Wanderlei Barbosa (Sem partido). Com a renúncia, Wanderlei deixa de ser o governador em exercício e se torna titular do cargo. Deve ser realizada uma cerimônia solene para a posse dele.
Desde que assumiu, Wanderlei rompeu a relação com Carlesse e realizou uma reforma administrativa no primeiro escalão que levou à troca de praticamente todo o secretariado. Ele também herdou a base de apoio que Carlesse tinha na Assembleia Legislativa. No começo da semana, 21 dos 24 deputados estaduais assinaram um manifesto de apoio a Wanderlei.
Histórico político
Mauro Carlesse assumiu o Poder Executivo do Tocantins de forma inesperada em 2018, sem nunca ter sequer sido cogitado como pré-candidato ao Palácio Araguaia.
Ele era presidente da Assembleia Legislativa e acabou na cadeira de governador porque Marcelo Miranda (MDB) e Cláudia Lelis (PV), então governador e vice, foram cassados por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Os dois foram condenados por uso de caixa dois na campanha eleitoral de 2014.
Após a cassação, Carlesse assumiu o mandato de forma interina e conseguiu se manter no cargo em uma eleição suplementar e depois novamente na eleição geral daquele ano.
O governo dele foi marcado por polêmicas, a mais emblemática delas sendo a mudança no manual de conduta da Polícia Civil. O documento ficou conhecido como ‘decreto da mordaça’ por proibir a divulgação de nomes de suspeitos de crimes e criticas a autoridades. Mais tarde, este seria um dos elementos citados na investigação que levou ao afastamento dele.