Secretaria de segurança do estado informou o afastamento de 21 policiais militares e 8 policiais civis que participaram da ação na fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’Arco.
Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) informou na tarde desta sexta-feira (26) que foram afastados 29 policiais envolvidos na ação que resultou na morte de 10 agricultores na fazenda Santa Lúcia, em Pau D´Arco, no sudeste do Pará.
Nove homens e uma mulher morreram na ação ocorrida na quarta-feira (24). A Segup disse que os policiais foram recebidos à bala quando tentavam cumprir 16 mandados de prisão contra suspeitos do assassinato de um vigilante da fazenda, no fim de abril.
De acordo com a Segup, 21 policiais militares e 8 policiais civis foram afastados de suas atividades de rotina e vão colaborar com as investigações da Polícia Civil. Delegados estão na fazenda Santa Lúcia e um integrante do grupo de agricultores que ocupava o local da ação já foi ouvido.
A Ordem dos Advogados do Brasil do Pará (OAB-Pará) informou na quinta-feira (25) que pediria o afastamento dos policiais para que não houvessem entraves nas investigações. Segundo a OAB-Pará, os policiais removeram os corpos do local do crime, uma conduta considerada irregular que compromete a perícia e a investigação do caso.
O secretário de Segurança Pública do Pará, Jeannot Jansen, afirmou que as mortes serão apuradas por uma equipe isenta e as equipes que participaram da operação vão responder a inquéritos. Segundo os peritos do Instituto Médico Legal, em três corpos havia perfurações a bala na cabeça e nas costas.
Parentes de vítimas da chacina contestam a versão dos órgãos de segurança do Estado de que os policiais reagiram a um ataque dos colonos: segundo os trabalhadores rurais, a polícia chegou na cena do crime atirando.
Onze armas apreendidas com os posseiros na ação foram encaminhadas para o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves (CPC), em Belém. As armas e coletes dos policiais civis e militares que participaram da ação já foram apresentadas e também serão encaminhadas para a perícia.
Ainda nesta sexta, representantes do Ministério Público do Pará (MPPA) vão ouvir depoimentos de familiares das vítimas em Redenção. O procurador geral do MPPA, Gilberto Valente, foi à Redenção e já anunciou que vai determinar a abertura de inquérito para apurar se houve excessos na operação.
Sobreviventes
A OAB-Pará declarou que, segundo parentes das vítimas, há pelo menos oito sobreviventes escondidos, mas um homem que está internado em um hospital público no sudeste do Pará é considerado a única testemunha do caso por enquanto. Ele não corre risco de vida, mas permanece em observação na unidade de saúde e recebe proteção de homens da Polícia Federal.
“Nós já tomamos o depoimento dele, já foi gravado e a gente vai levar para o Ministério Público agora e analisar junto com os outros elementos que já recolhemos”, diz o promotor de Justiça Agrária do município, Erick Fernandes, que esteve ouviu o trabalhador rural na noite de quinta.
“Ele relatou algumas coisas, mas algumas coisas vagas. Ele não foi muito concreto. E como a investigação ainda está se desenrolando, eu não poderia comentar a fala dele aqui por enquanto”, explica o promotor.
Sepultamento
Oito vítimas foram veladas na manhã desta sexta no ginásio da escola municipal Otávio Batista Arantes, em Redenção. De acordo a reportagem da TV Liberal, o velório durou cerca de três horas e os corpos seguiram para o sepultamento, devido o estágio avançado de decomposição em que se encontravam.
“Eu acho um pouco de descaso, porque disseram (autoridades) que iam chegar com os corpos preparados e não prepararam nada. O sofrimento é muito grande, porque é muita gente”, disse o aposentado Marcelo Silva, parente de vítimas.
Nem todos os familiares conseguiram participar da cerimônia. “Só quem viu fomos nós. Nem os avós, nem as tias, ninguém viu mais. Nem os irmãos”, afirma Manoel Pereira, parente de sete das oito vítimas veladas no ginásio.
Os corpos das oito vítimas foram sepultados no cemitério municipal Parque da Paz. Os corpos das outras duas vítimas da chacina foram sepultados em Pau D´Arco.
Movimentos sociais criticam atuação da PM
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) divulgou uma nota de solidariedade às vítimas, alegando que “a chacina de Pau D’arco é mais um triste episódio que evidencia oacirramento da violência no campo, vitimando trabalhadores e trabalhadoras rurais, a parte mais vulnerável dos conflitos envolvendo a posse e uso da terra no Pará”.
A CUT disse ainda que denuncia “nacional e internacionalmente a atuação autoritária, desproporcional e despreparada da Polícia Militar do Pará diante do conflito de Pau D’Arco. Adotaremos todos os protocolos necessários junto aos organismos internacionais de Direitos Humanos para que apurem a responsabilidade do Estado com a escalada de violência contra trabalhadores e trabalhadoras rurais e os movimentos sociais que os representam”.
O texto segue informando que os movimentos sociais esperam que as mortes das vítimas da chacina não sejam naturalizadas, e informa que a solução para os conflitos no campo depende da “democratização do acesso à terra e o reconhecimento de direitos territoriais historicamente violados”.
Veja a lista das vítimas
Segundo o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, as vítimas são:
– Antônio Pereira Milhomem
– Bruno Henrique Pereira Gomes
– Hércules Santos de Oliveira
– Jane Júlia de Oliveira
– Nelson Souza Milhomem
– Ozeir Rodrigues da Silva
– Regivaldo Pereira da Silva
– Ronaldo Pereira de Souza
– Weldson Pereira da Silva
– Weclebson Pereira Milhomem
De acordo com a polícia, pelo menos 4 dos 10 mortos no episódio estavam com pedidos de prisão decretados. Os nomes dos mortos que teriam pedido de prisão decretados não foram discriminados.