Moradores de Araguaína vão às ruas para protestar contra exoneração de delegado regional

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Moradores de Araguaína vão às ruas para protestar contra exoneração de delegado regional

Ao todo, 12 delegados foram exonerados dos cargos de chefia. Um deles foi Bruno Boaventura, que comandava investigações importantes, envolvendo ex-juiz eleitoral e deputado estadual, em Araguaína.

Uma manifestação tomou conta das ruas de Araguaína na tarde deste domingo (18). Moradores saíram para protestar contra um ato do governador do Tocantins, Mauro Carlesse, que decidiu exonerar dos cargos de chefia 12 delegados regionais. Um dos afetados foi o delegado regional de Araguaína, Bruno Boaventura, que estava à frente de investigações importantes relacionadas ao governo. O diário oficial que contém as exonerações foi publicado na última sexta-feira (16).

Colegas de trabalho e moradores se reuniram na Praça do Galo por volta das 16h, e em seguida seguiram em carreata até o complexo de delegacias. A manifestação foi encerrada em frente ao complexo de delegacias com gritos de ordem. PM e organização não informaram o número de manifestantes.

A atitude do governador Mauro Carlesse (PHS) foi tomada durante um escândalo envolvendo um crime ambiental, praticado por uma suposta associação criminosa, que estava sendo investigada por Boaventura. O caso envolve um galpão encontrado em Araguaína no dia 7 deste mês com quase 200 toneladas de lixo hospitalar. Os resíduos teriam saído de vários hospitais públicos do Tocantins.

A empresa responsável pela coleta de lixo de 13 hospitais do estado, incluindo do Hospital Regional de Araguaína, e que teria descartado os resídios de forma irregular, pertence ao ex-juiz eleitoral João Olinto, que é pai do deputado estadual Olyntho Neto (PSDB). O parlamentar é líder do governo na Assembleia Legislativa do Tocantins. O ex-juiz teve a prisão decretada, mas é considerado foragido. A empresa de propriedade dele foi contratada sem licitação pelo governo estadual, em agosto desse ano.

Segundo o delegado, a exoneração tem motivações políticas. Em uma rede social, ele explicou o motivo da saída. “Minha exoneração será publicada hoje no DOE [Diário Oficial do Estado]. Acabo de ser informado. Retaliação em virtude de minha atuação.”

Delegado Bruno foi exonerado do cargo de delegado regional — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Delegado Bruno foi exonerado do cargo de delegado regional — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Em outra rede social, o delegado comentou: “Hoje recebo a notícia de meus superiores que serei exonerado do cargo de Delegado-Regional de Araguaína, com muita hombridade e sentimento de dever cumprido, pois, se incomodamos esses malfeitores o trabalho foi realizado da melhor forma possível.”

O governo informou na sexta-feira que as exonerações estão dentro das medidas tomadas para reorganizar a administração pública e implantar um novo modelo de gestão. Disse que o objetivo é reduzir despesas e equilibrar as contas públicas.

Afirmou ainda que o desligamento dos delegados de polícia não altera os trabalhos de investigação “pois todos prosseguem exercendo integralmente suas atividades, sem qualquer interferência de cunho político que possa atrapalhar ou direcionar o resultado dos trabalhos”.

O Sindicato dos Delegados de Polícia do Tocantins (Sindepol) se posicionou sobre a exoneração de Boaventura e emitiu uma nota de repúdio. No texto, o sindicato citou as investigações do delegado e disse que o afastamento se trata de uma perseguição política. Afirmou ainda que “não admitirá tentativas de impedir o regular cumprimento do dever legal de seus filiados” e que “as investigações serão sempre pautadas pelo combate aos crimes, não importando quem sejam seus autores”.

Veja os delegados regionais que foram exonerados dos cargos:

* Bruno Boaventura – Delegacia Regional de Araguaína

* Abelice Abadia da Cunha Oliveira – Delegacia Regional de Alvorada

* Adriano Carrasco dos Santos – Delegacia Regional de Guaraí

* Afonso José Azevedo de Lyra Filho – Delegacia Regional de Dianópolis

* Clecyws Antônio de Castro Alves – Delegacia Regional Miracema

* Eduardo Morais Artiaga – Delegacia Regional de Araguatins

* José Antônio da Silva – Delegacia Regional de Arraias

* Lucélia Maria Marques Bento – Delegacia Regional de Gurupi

* Olodes Maria de Oliveira Freitas – Delegacia Regional de Colinas do Tocantins

* Tiago Daniel de Morais – Delegacia Regional de Tocantinópolis

* Raimunda Bezerra de Souza – Delegacia Regional de Paraíso do Tocantins

* Wagner Rayelly Pereira Siqueira – Delegacia Regional de Porto Nacional

Outras 149 pessoas foram dispensadas de cargos de chefia exercidos na Secretaria de Segurança Pública do Tocantins.

Entenda

A polêmica envolvendo o lixo começou quando um galpão foi encontrado com quase 200 toneladas de resíduos hospitalares armazenados de maneira irregular. No galpão deveriam funcionar duas empresas cadastradas no nome do deputado estadual Olyntho Neto (PSDB), filho de João Olinto.

Além disso, um caminhão com lixo hospitalar foi encontrado dentro do terreno do hotel da família Olinto. O veículo estava no nome da empresa Agromaster S/A, também registrada no nome do deputado estadual.

O ex-juiz eleitoral, inclusive, teve a prisão decretada e está sendo procurado pela Polícia Civil. O delegado Bruno Boaventura afirmou que ele seria o dono da empresa responsável pela coleta de lixo dos hospitais e que teria despejado os resíduos no galpão.

“Ele tinha a função de coordenar os trabalhos da Sancil por interpostas pessoas. Ele não constava na relação de sócios da empresa, mas ele utilizou de duas funcionárias do escritório de advocacia para o fim de constituir essa empresa”, relatou Boaventura.

Além disso, o delegado também deu declarações polêmicas após sargentos da Polícia Militar serem acusados de assassinatos em Gurupi, no sul do estado.

Na época, Bruno Boaventura revelou que o delegado responsável pelo flagrante deixou o Tocantins após sofrer ameaças. O caso foi negado pelo secretário de segurança pública do estado.

“Ele entendeu que neste momento ele poderia estar muito vulnerável na cidade. Isso mostra que a falta de controle da situação por parte da Polícia Militar, principalmente do comando, faz com que os colegas se sintam intimidados”, disse o delegado naquela ocasião.

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