Há 17 anos foi reconhecido por meio de lei a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como forma de comunicação e expressão com os deficientes auditivos. A libras é um sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos.
E nesta quarta-feira, 24, data em que comemora 17 anos dessa lei, a Escola Municipal Professora Ilsa Borges promoveu uma palestra com o tema “Os desafios do mundo das Libras”, ministrada pela professora Marilucy Oliveira, da Escola Fé e Alegria Bernardo Sayão e interpretada por um profissional de Libras.
Marilucy trabalha com Libras há mais de oito anos e foi motivada a aprender a língua quando se deparou com a deficiência auditiva da filha. Para ela, hoje o maior desafio para a criança e adolescente com deficiência auditiva no processo de ensino aprendizado é que muitos não tiveram o acompanhamento do intérprete desde o início da vida escolar, e até mesmo em casa, pois muitas famílias não se atentam para essa necessidade, e o aluno vai passando de série em série sem realmente aprender e chega a uma determinada série sem saber o básico. “Sabemos que a primeira língua do surdo é a língua de sinais, mas a segunda é o português escrito e na maioria das vezes quando chega a uma série mais avançada o intérprete tem que interpretar questões de química e física e até mesmo de língua portuguesa e o surdo não domina, muitas vezes, nem as palavras de sílabas simples. A maior dificuldade do intérprete é o fato do surdo não ter tido esse amparo no início da escolarização”, destaca.
Marilucy destaca que o surdo não tem dificuldade de aprender nada, mas tem que ser usada a Língua dele. Sobre o reconhecimento das famílias da importância de aprender a Língua de Sinais, a profissional comenta que quando os pais se deparam com o laudo de um filho com deficiência auditiva eles vivem um período de luto, com muitos questionamentos sobre como será a vida da criança, como será na escola, na rotina simples do dia-a-dia, porém a maioria das famílias vive esse luto a vida inteira e não busca conhecer como o surdo aprende. “São poucas famílias que sabem Libras, por isso, as vezes o surdo chega à adolescência sem dominar a própria língua e acaba se isolando”, destaca.
Na escola Ilsa Borges, há apenas um aluno com deficiência auditiva, Kauê Freitas, que está cursando o 8º ano e é acompanhado por uma professora intérprete. O pai dele, Antônio Carlos Freitas, destaca a importância desse acompanhamento. O adolescente está na Escola Professora Ilsa Borges, há dois anos, e antes ele não tinha o intérprete e o pai comenta que após chegar à nova escola o filho tem evoluído bastante no processo de aprendizado e até mesmo na interação com os colegas.
A professora intérprete, Mônica Santos, que acompanha o aluno Kauê, também enfatiza que o grande desafio é que os alunos surdos, por falta de auxílio, têm dificuldade com a língua portuguesa e em alguns casos a família também é uma barreira pois não se capacita para que a criança evolua. Mônica destaca que os surdos têm um potencial enorme e cita as habilidades do aluno que ela atende na Ilsa Borges, que ama artes e ciências. Relata que ele não tem nenhum problema cognitivo, ou seja, tem habilidades de aprendizado e desde quando começou a acompanhá-lo já foi observado evolução.
Mônica destaca que para trabalhar com alunos com deficiência auditiva é preciso usar muitas imagens e recursos de informática para facilitar o acesso. “Tudo que é exposto a ele com cores, ele consegue aprender mais rápido. O Kauê, por exemplo, gosta e aprende com certa facilidade as matérias como geografia e história por amar ver os mapas. Ele entende que mora no Brasil e que existem outras culturas”, comenta.
O diretor da Escola Professora Ilsa Borges, Jônatas Barreto, destaca que a escola tem esse papel de integrar, diminuir barreiras e criar mecanismos para facilitar o acesso ao ensino de qualidade. Ele comenta que desde quando o Kauê chegou à escola ele tem recebido todo o suporte para que seja minimizado qualquer dificuldade; “Kauê chegou aqui com uma dificuldade de socialização e temos percebido que essa barreira tem diminuído, as outras crianças também buscado compreendê-lo”, enfatiza completando que essas ações de socialização e diminuição de barreiras não acontecem apenas em datas comemorativas, mas são atividades rotineiras.
O prefeito Laurez Moreira, destaca a importância do profissional de Libras para diminuir as barreiras no processo de aprendizado das crianças da rede municipal. “Temos um zelo muito grande com nossas crianças e adolescentes que são o futuro da nossa cidade, por isso temos que oferecer todas as condições para que nossos alunos aprendam e para isso nossa Secretaria não mede esforços em oferecer mecanismos para que a educação chegue com qualidade, além de termos a responsabilidade de promovermos a inclusão.
Na rede municipal de ensino há três alunos com deficiência auditiva e todos são acompanhados durante todas as aulas por um intérprete, além do acompanhamento uma vez por semana no contra-turno. Esse trabalho faz parte do programa Educa Gurupi que busca fomentar ações que promovam o acesso com mais facilidade ao ensino de qualidade.