A implementação do novo modelo do Ensino Médio, suspenso pelo Ministério da Educação, foi amplamente debatido em audiência pública realizada nesta quinta-feira, 27, na Assembleia Legislativa.
A discussão, conduzida pelo presidente da Comissão da Educação, Cultura e Desporto, deputado Marcus Marcelo (PL), reuniu alunos, professores, profissionais da Educação, representantes de sindicatos, órgãos e unidades escolares públicas e privadas, além de lideranças políticas de todas as regiões do Estado.
No debate os representantes de entidades de trabalhadores da Educação criticaram a forma como o programa de ensino foi apresentado às instituições e gestores, sem prévia discussão com a categoria e alunos, e sem análise da realidade de cada região.
O novo Ensino Médio começou a ser implementado no ano passado em todo o Brasil em escolas públicas e privadas. Para o presidente do Sintet, José Roque, o assunto tem gerado muita polêmica nas escolas e deixado os professores desanimados porque o programa do Governo Federal foi imposto aos Estados sem oferecer estrutura física, tecnológica e de formação profissional.
“Não concordo com a implementação de um modelo de ensino que não valoriza os professores e não é adequado à nossa realidade”, defendeu.
Para o representante dos estudantes secundaristas da rede pública, Bernardo Adler, as mudanças na oferta das disciplinas podem prejudicar os alunos que ainda vão fazer as provas do Enem, com a retirada na grade de ensino das disciplinas de História, Arte, Química e Biologia, e ainda desobrigar a oferta da disciplina de Redação. “Somos contra a reforma do ensino médio e a favor da revogação do novo modelo de ensino”, enfatizou o aluno.
“A política de implementação que exige nova carga horária e itinerários formativos não pode ser imposta em colégios de cidades que não têm estrutura, laboratórios e professores qualificados para novas disciplinas, a exemplo de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Projeto de Vida”, comentou a deputada e Professora Janad Valcari (PL).
A falta de diálogo e integração entre agentes da Educação, alunos e gestores públicos também foram apontados pela deputada como fatores prejudiciais à implantação do novo modelo. “Devemos avançar, mas com cautela. Só quem está fora da sala de aula é a favor desse novo modelo. O aumento da carga horária desestimula os alunos e a troca de disciplinas clássicas por matérias novas, que ainda não tem profissionais formados; isso vai prejudicar a qualidade das aulas”, argumentou Janad.
Para o deputado Professor Júnior Geo (PSC) a qualidade do ensino e a valorização dos professores ficarão comprometidos com a implementação do novo modelo de ensino. “O novo formato do ensino vai forçar os professores a cumprirem a carga horária em disciplinas para as quais não são capacitados, porque as novas matérias não têm profissionais qualificados”, enfatizou Geo.
A superintendente da Educação Básica da Seduc, Celestina Maria Souza, que representou o secretário da Educação, Fábio Vaz, reconheceu que o Estado não tem condições de realizar todas as adaptações exigidas.
“Tem cidade que conta com apenas uma escola de ensino médio, sem a menor estrutura para se adequar às exigências do novo sistema e ofertar os itinerários que o programa prevê. Pelo programa, a escola teria que ofertar quatro itinerários de ensino, para o aluno escolher, porém a maioria dos Estados mal conseguiria oferecer duas modalidades de itinerário formativo”, explicou.
O presidente do Conselho Estadual da Educação, Evandro Borges, frisou que suspensão do cronograma do novo Ensino Médio vai dar o tempo que os profissionais precisam para debater alternativas e apresentar soluções ao novo programa, com propostas para o relatório, que será entregue ao ministro da Educação, Camilo Santana.
Para Evandro, o antigo Ensino Médio não despertava mais o interesse dos alunos. “Precisamos analisar os índices de evasão escolar e buscar um ensino atrativo, revogar o novo modelo seria retroceder”, justificou.
Itinerários Formativos do Novo Ensino Médio
Ciências da Natureza e suas tecnologias; Linguagens e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais aplicadas; Matemática e suas tecnologias; Formação Técnica e Profissional; Linha de fomento do Itinerário da Formação Técnica e Profissional.
Eixos Itinerários Formativos
Os Itinerários Formativos, que são a parte flexível do currículo, estão organizados em três componentes: Aprofundamento, Eletivas e Projeto de Vida. E esses componentes devem dialogar com quatro eixos estruturantes: investigação científica, mediação e intervenção sociocultural, processos criativos e empreendedorismo.